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Projeto Raia Manta

 

 

No Brasil, apesar de haver registros esporádicos da espécie por toda a costa, existia somente um ponto de ocorrência sazonal da espécie confirmado no Brasil, no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, localizado a 45km da costa, onde elas ocorrem no inverno. Mas em 2010 a pesquisadora Andrielli M. Medeiros, que no momento cursava a graduação em Oceanografia na UFPR, iniciou a busca por elas no Paraná sobre a orientação da Dr. Camila Domit que havia avistado as mantas durante um estudos com os boto-cinzas (Sotalia guianensis). A partir de relatos dos pescadores artesanais de Pontal do Paraná, averiguou-se que as mantas (chamadas pelos pescadores de jamantas) ocorriam na região da Vila das Peças, localizada na Ilha das Peças, município de Guaraqueçaba, área interna do Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP).

Entrevistas foram realizadas com os pescadores artesanais da Vila das Peças. Por meio das entrevistas foi possível levantar informações quanto ao conhecimento ecológico dos pescadores sobre a raia M. birostris (comportamento, sazonalidade, alimentação, habitat), além de auxiliar a compreender o histórico da pesca local, o seu status atual e a interação entre os pescadores e a raia manta. Segundo os relatos, as mantas (chamadas por eles de jamantas) ocorrem a mais de 30 anos na região e são avistadas saltando para fora d´água no verão e outono, principalmente nos meses mais quentes. É interessante o fato de que os pescadores não tem interesse em capturá-las pois não apreciam o sabor da sua carne, que além disso, não tem valor comercial. Então procuram pescar em locais onde elas não ocorram para não perder seus petrechos e isto acaba protegendo indiretamente as mantas e as outras espécies que ocorrem na região.

 

O próximo passo foi realizar a visualização e registro de imagem das mantas saltando para confirmar a ocorrência. Mas como a ocorrência de raias mantas em estuários se restringia a raros registros nos EUA e um registro somente no Uruguai, não foi possível conseguir apoio financeiro para a pesquisa, pois todos achavam que eu estava confundindo as mantas com raias mobulas, que pertencem à mesma família, são similares, mas são bem menores e diferentes morfológicamente. Quem aceitou me orientar durante a graduação foi a Dr. Camila Domit, que nos seus trabalhos com golfinhos na Ilha, havia avistado as mantas também. Foi necessário contar com a ajuda de amigos e trabalhar muito (como garçonete, vendedora, fiscal de ambulantes e estagiária de outros projetos) para conseguir dinheiro para ir e permanecer na Vila das Peças e comprar equipamentos para a pesquisa. Mas o esforço valeu a pena, pois em janeiro de 2012, fazendo campos em pontos fixos indicados pelos pescadores como os melhores para os avistamentos, avistei a primeira manta saltando. Até maio foram avistados 99 saltos das mantas, com um pico de ocorrência em março e consegui confirmar a ocorrência da manta M. birostris em águas estuarinas do Paraná (Fig. 4, Fig. 5).

 

Em 2013 voltei para confirmar a ocorrência sazonal e em 2013 foram 148 avistamentos entre janeiro e maio com um pico de ocorrência em fevereiro e agora em 2014 o pico de ocorrência foi em janeiro. A Ilha das Peças é um lugar muito especial, esta é uma ocorrência inédita no mundo de raias mantas ocorrendo sazonalmente em águas estuarinas.

 

Atualmente estão sendo estudadas as características ambientais na presença e ausência das mantas, para entender estas flutuações nos avistamentos, se estão reçlacionados a fatores como salinidade, temperatura, pluviosidade, para assim prever a entrada das mantas com antecedência como tema do mestrado em Oceanografia biológica na FURG, sob a orientação do Dr. Luciano Dalla Rosa intitulado “Distribuição e uso de habitat da raia Manta Birostris, no Complexo Estuarino de Paranaguá, Sul do Brasil”.

 

Na próxima temporada serão estudadas na Ilha das Peças também, as possíveis motivações dos saltos, os possíveis impactos, será realizada foto identificação, marcação, educação ambiental com os moradores e turistas, além de investigar a ocorrência das mantas em outros locais do Brasil.

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